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Mudanças Climáticas: especialista alerta para criação urgente de banco de dados robustos sobre padrão de chuvas extremas no país

chuva em cidade

Estudos sobre PMP ajudam no planejamento de infraestruturas resilientes e de políticas públicas mais assertivas para prevenção de desastres

Os eventos climáticos extremos no planeta estão cada vez mais frequentes e mais desafiadores para a sociedade como um todo. A estimativa é que ocorram chuvas intensas e volumosas e secas mais severas. Todo esse cenário demanda uma evolução nos dados científicos sobre precipitações produzidos no país, para antecipar possíveis ações de combate a tragédias já anunciadas. Nesse sentido, os estudos da Precipitação Máxima Provável (PMP) tornam-se a base essencial para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura robustos e adaptáveis às mudanças climáticas.

O ano de 2023 foi o mais quente da história da Terra desde que começaram as medições, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), com temperatura 1,4ºC acima da média de 1850/1900. No Brasil, tivemos nesse ano seca histórica (como a vista na Amazônia) e também chuvas com enchentes e alagamentos importantes, como o que ocorreu nos estados do Sul. E 2024 já começou com desastres causados por temporais na cidade do Rio de Janeiro e em cidades da Baixada Fluminense.

Para lidar com esses riscos e adotar medidas para mitigá-los, o mestre em Recursos Hídricos e especialista em Recursos Hídricos da DF+ Engenharia, Marcus Cruz, considera urgente entender e quantificar como as mudanças climáticas afetam as regiões.

De acordo com a OMM, a PMP representa a máxima quantidade de chuva que pode ocorrer em uma determinada região durante um período específico, sendo imprescindível para o dimensionamento de obras como barragens, sistemas de drenagem, pontes e estradas. Sua análise vai além de simples previsões meteorológicas, pois considera o comportamento histórico das chuvas, modelos estatísticos avançados e projeções climáticas.

“A aplicação adequada e preditiva das metodologias de verificação de extremos climáticos possibilita orientar políticas públicas e a adoção de ações estruturais e não estruturais de segurança hidrológica e hidráulica na infraestrutura urbana e de transporte.Entretanto, a busca refinada nos diversos bancos de dados existentes é desafiadora, tendo em vista a escassez de dados climatológicos em quantidade e detalhamento para subsidiar as análises”, ressalta Cruz.

Diante do cenário apresentado, investir em estudos aprofundados da PMP seria imperativo para a engenharia moderna. Projetos que desconsideram essa estimativa adequada podem resultar em infraestruturas vulneráveis a inundações, deslizamentos de terra e colapsos estruturais, gerando prejuízos econômicos e riscos à sociedade.

A partir da análise da PMP, os gestores públicos podem estabelecer zonas de risco, implementar planos de evacuação, promover ações de educação e conscientização da população, dentre outras iniciativas. A integração das informações nos sistemas de alerta precoce viabilizaria uma resposta mais rápida e eficaz diante de situações de emergência.

“Torna-se urgente a ampliação de bancos de dados confiáveis e das redes meteorológicas pública e privada, o treinamento e a difusão sobre as metodologias de cálculos para um grande número, além da capacitação de profissionais, para que possamos lidar com todas estas mudanças climáticas e predizer os resultados de eventos extremos”, conclui o engenheiro.

Mudanças climáticas no Brasil

Ao longo das últimas décadas, o Brasil registrou um aumento de 1,5ºC de temperatura em algumas regiões.  Um estudo feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre os impactos das mudanças climáticas no país aponta para uma ampliação do número de dias secos e da duração das ondas de calor.

A tendência, segundo especialistas, é que eventos extremos aconteçam com mais frequência não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o último deles lançado em março de 2023, à medida que a temperatura média global for aumentando, a projeção é de elevações na quantidade total de chuvas em grande parte do território brasileiro, como nas regiões Sudeste e Sul, e diminuição no Centro-Oeste, em boa parte do Nordeste e também no leste da Amazônia.

Ilustrando esse panorama, é possível citar algumas catástrofes decorrentes de chuvas excepcionais em anos anteriores, como as que ocorreram em Teresópolis e em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011 e 2022. As inundações no sul da Bahia, também em 2022, causaram perdas irreparáveis.

Em fevereiro de 2023, no litoral norte de São Paulo, as elevadas precipitações provocaram deslizamentos de terras, corridas de lama e detritos, erosões, danos às estruturas, paralisação de serviços e operações de indústrias e perda de vidas. Em São Sebastião, por exemplo, situação bastante crítica foi registrada, com até 600 mm de chuva acumulados em 24 horas. No Rio Grande do Sul, a formação de ciclones extratropicais culminou em inundações de grande extensão territorial e inúmeras mortes.

Em Minas Gerais, há uma grande preocupação para além das enchentes, deslizamentos de terra e desabamentos registrados em diferentes cidades, inclusive na capital, impactando até atividades econômicas diretamente, como a agricultura e a mineração, duas das economias mais fortes do estado.

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